Se pudessem, 62% dos jovens brasileiros iriam morar no exterior

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Mais da metade dos jovens brasileiros (62%) sairiam do país para morar no exterior. De acordo com pesquisa Datafolha, cerca de 70 milhões de brasileiros entre 16 anos e 60 ou mais de idade deixariam o Brasil caso pudessem, sendo, destes, aproximadamente 19 milhões de jovens entre 16 e 24 anos. Estima-se que população do Brasil, de acordo com o IBGE, seja de 209.150.558 milhões de habitantes. Oportunidades de aumento de renda e de empreendedorismo atraem não apenas jovens, mas também famílias inteiras, de acordo com diretor de franquia de intercâmbio.

O fundador da rede de intercâmbio World Study, Marcelo Cansini, aponta que um dos principais motivos que levam os jovens a querem morar fora do país é a falta de perspectiva no mercado de trabalho. “Depois da globalização, se tornou mais fácil entrar em vários países, assim como estudar, seguir carreira e ter uma vida mais estável, enquanto o Brasil gera muita insegurança. O jovem está na faculdade, mas vê demissões em massa e fica sem perspectiva de futuro no mercado de trabalho. Até mesmo a corrupção gera esse sentimento”, afirmou.

A pesquisa também revela que, entre os quase 70 milhões de brasileiros que afirmaram que deixariam o país, 56% possuem nível superior de ensino e 51% pertencem às classes A e B. “Até mesmo famílias, nos últimos anos, foram embora do país, principalmente as de bom poder aquisitivo. As famílias procuram geralmente países que tenham oportunidade de empreendedorismo para fazer investimento, a exemplo dos Estados Unidos. Eles também buscam melhores possibilidades de estudos para os filhos. Muitas vezes, as mães vão antes com os filhos para organizarem tudo ou os pais mantém negócios no Brasil e vivem na ponte aérea”, comentou Cansini.

Por sua vez, os jovens buscam oportunidades de trabalho e estudo ao mesmo tempo. “Eles querem pagar as contas, mas também estudar. Muitos empregos ofertados aos jovens têm carga horária menor justamente para possibilitar essa experiência”, afirmou o fundador da World Study. Cansini destacou países como Austrália e Irlanda que facilitam a ida de estrangeiros jovens que queiram trabalhar temporariamente.

“A Austrália é um dos países que mais facilita o visto, tanto que temos dois escritórios por lá e vamos abrir mais três porque a busca para renovação dos vistos é alta. A Irlanda também é um local que permite trabalho e estudo ao mesmo tempo. Outro país que oferece oportunidade de trabalho é o Canadá, assim como a Nova Zelândia. Os Estados Unidos são muito procurados, mesmo com mais restrições ao visto. Alguns também procuram Uruguai e Argentina, mesmo com a crise atual de lá”, explicou.

De acordo com Marcelo Cansini, da World Study, há muita procura de jovens nordestinos para morar fora do país. “Dos nossos alunos da região, a procura tem crescido muito. Pelo menos 20% dos alunos querem morar fora para trabalhar e estudar”, disse.

O fundador da rede de intercâmbio afirmou, ainda, que alguns países têm facilidade para aceitar estudantes específicas. “A Singapura, por exemplo, facilita a entrada de músicos. Onde há nichos mais específicos, recomendamos também”, frisou.

Estudos e cultura diferente atraem jovens      

A jornalista paraibana Lays Rodrigues mora na Espanha desde 2016 e contou que sempre teve curiosidade de conhecer outras culturas. “Sou muito curiosa, adoro aprender idiomas e conhecer gente de outros países. Por muito tempo tive esse sonho de morar no exterior. Mas nunca pensei que seria na Espanha. Há quatro anos, depois de juntar dinheiro por algum tempo, fui a uma agência de intercâmbio e comprei um curso de espanhol de duas semanas para estudar em Madri. Eu não sabia muito dessa cidade, e só me interessava estudar duas semanas e depois conhecer Barcelona e viajar para outros países. O que eu não esperava é que em duas semanas eu ia gostar tanto de Madri, uma cidade grande, sem praia, mas cheia de possibilidades e gente de vários países”, relatou.

Depois de idas e vindas, a paraibana decidiu morar de vez na Espanha e, há dois anos, trabalha e estuda no país – ainda sem data de retorno ao Brasil. “Eu recomendo essa experiência. É bastante duro no começo estar longe de todos da família. Você fica doente e sempre pensa o pior, e tudo é você por si mesma. Não há ajuda de ninguém. E a saudade, principalmente no começo, apertava muito. Mas posso dizer que hoje sou outra pessoa. Sou uma mulher muito mais forte e determinada para superar problemas, comecei a cuidar da minha saúde e a valorizar ainda mais minha família, o que é mais importante para mim”, frisou.

A também jornalista Ellyka Gomes queria aperfeiçoar o inglês e, por isso, resolveu fazer intercâmbio do tipo Au Pair. Além disso, fez cursos profissionalizantes e uma especialização em Marketing Social Media enquanto esteve nos Estados Unidos. “Eu sempre gostei de criança. Então, ter a oportunidade de morar no exterior com uma família americana e estar em contato com crianças pareceu perfeita para mim (e foi). Morei com a família que me hospedou por um ano e meio e trabalhava cuidando de duas meninas de 4 e 7 anos”, explicou.

Como o programa de Au Pair é antigo nos Estados Unidos, as regras do acordo de trabalho são bastante definidas, de acordo com a jornalista. “Eu trabalhava 10 horas por dia e no máximo 45 por semana. Ganhava um salário e uma bolsa de estudos pagos pela família hospedeira, além de alimentação e um quarto privado. Todo mundo deveria fazer intercâmbio em algum momento da vida. Os horizontes aumentam. Você enxerga o quanto o mundo é vasto, quanto lugar está aí fora esperando para ser explorado. Sair da zona de conforto te fortalece enquanto pessoa. Você aprende com seus erros. Você passa a dar valor ao que realmente é importante. Certamente eu voltei diferente desse intercâmbio”, salientou.

Para Ellyka, a vivência que teve nos Estados Unidos, experimentando a cultura, hábitos festivos, feriados e a culinária foram os pontos positivos do intercâmbio. “Cada povo tem a sua forma de se expressar e eu vivi isso de perto. Então, aprendi a viver e respeitar as diversidades. A parte negativa para mim foi a comida. Embora a gente sempre ache um restaurante brasileiro no exterior, nada se compara a um bom prato de comida caseira. Então, sofri muito com esse aspecto. Outro ponto é a saudade da família em momentos de reunião, como Natal e Ano Novo. Essas datas fazem a gente refletir e querer estar perto de quem a gente ama. Então é bem doloroso estar sozinho nesse momento”, comentou.

Entrevistados que se mudariam do país por faixa etária:

16 a 24 anos – 62%

25 a 34 anos – 50%

35 a 44 anos – 44%

45 a 59 anos – 32%

60 anos ou mais – 24%

Por nível de escolaridade:

Fundamental – 27%

Médio – 48%

Superior – 56%

Celina Modesto – Jornal Correio da Paraíba